A nossa água que não chega ao seu destino

48% da água tratada é perdida

Publicado em 12/02/2015 - 12:00
A nossa água que não chega ao seu destino

Por Alberto Kirilauskas*

Imagine a seguinte situação: após uma corrida pela manhã você chega em casa com muita sede e pega aquela garrafa de água de um litro levemente gelada. Afoito a vira direto na boca e depois de alguns segundos com o chão e a camiseta encharcadas, descobre que somente bebeu pouco mais da metade da água, e o resto foi desperdiçado no caminho entre a garrafa e a sua boca. Provavelmente você se autocriticaria: fiz algo errado!

Pois bem, a cidade de Piracicaba vem fazendo algo parecido. Para cada litro de água tratado e, consequentemente, adequado para o consumo, ela deixa “cair fora” 0,48L (ou 48%), quase metade, entre o caminho da estação de tratamento de água e a torneira das casas piracicabanas. É isso o que o indicador do Observatório Cidadão, atualizado este mês, referente às perdas na distribuição de água informa (Clique aqui para acessá-lo). Os dados são referentes a 2013, dada a existência de uma defasagem de 2 anos das informações do SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

A série histórica do indicador permite uma análise mais completa, pois demonstra que ao longo dos últimos 12 anos as perdas na distribuição na cidade permaneceramm elevadas, sempre acima dos 40%. A analogia do desperdício de água no ato de se hidratar e na distribuição de uma cidade serve para se gerar reflexões e se ter uma noção de proporcionalidade do que está acontecendo, porém, é fundamental diferenciar as soluções individuais das coletivas. No que se refere às ações individuais é mais simples, pois depende só de si corrigir a falha e reduzir significativamente as perdas. Por sua vez, reduzir as perdas em uma cidade demanda esforços maiores, mas são ações necessárias e possíveis de serem realizadas.

Os elevados valores de perdas na distribuição dos últimos 12 anos indicam que as ações realizadas pelos responsáveis pelo Semae e Prefeitura não foram suficientes e precisam de maior intensidade ou que novas ações sejam concretizadas para a melhoria deste quadro, que comparado com diferentes cidades permite uma melhor compreensão da realidade. Por exemplo: Limeira em 2000 perdia 27,7% da sua água na distribuição e atualmente a perda é de 14,5%; Campinas passou de 26,7% em 2000 para 19,2% em 2013; e, por fim, uma cidade que está enfrentando graves problemas com a escassez de água, a cidade de São Paulo, perdia 42,3% da sua água tratada em 2000 e em 2013 esse valor foi reduzido para 35,8%. Os exemplos demonstram que é possível melhorar esse cenário.

Em matéria veiculada em janeiro no Jornal de Piracicaba, o presidente do SEMAE  apresentou uma série de obras que serão realizadas para reduzir as perdas na distribuição, tendo como meta 25% de perdas. Atingir a meta será um grande passo para Piracicaba, e é necessário se ter em mente que ao tratar de bens ambientais o processo deve ser de melhoria contínua, objetivando sempre aumentar a eficácia na gestão dos recursos.

Em tempos de escassez hídrica essas perdas de água potável demandam ainda mais esforços das instituições responsáveis para reduzi-las, bem como um maior empenho de todos que utilizam esse precioso bem cotidianamente.

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[1] Na entrevista ao Jornal de Piracicaba o presidente do SEMAE apontou que há uma parte dessa água que não é considerada como perda na distribuição porque ela é utilizada na limpeza dos equipamentos da estação de tratamento

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Para saber mais, acesse o Boletim de Meio Ambiente lançado pelo Observatório Cidadão de Piracicaba em junho de 2014.

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Alberto Kirilauskas é gestor ambiental e mestrando em Ecologia Aplicada pela ESALQ/USP e voluntário do Observatório Cidadão

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