"A acessibilidade em Piracicaba é muito ruim" diz membro do Comdef

Confira entrevista com representante do Comdef

Publicado em 21/05/2018 - 12:00

Por Claudia Assencio/Observatório Cidadão

O Observatório Cidadão de Piracicaba conversou com Francisco Nuncio Cerignoni, membro do Conselho Municipal da Proteção, Direitos e Desenvolvimento da Pessoa com Deficiência (Comdef) de Piracicaba para o projeto MobCidades. Ele, que já foi presidente da instituição, atua em organizações voltadas às pessoas com deficiência desde a década de 80. Confira abaixo:

1) O que o Comdef espera do poder público para 2018?

Para 2018, como nós vimos na elaboração do orçamento, há pouco recurso destinado às questões de mobilidade e de acessibilidade. Portanto, desejamos montar o Plano Municipal de Mobilidade Urbana e organizá-lo com metas definidas e claras para que, a partir de 2019, possam constar recursos suficientes no orçamento para executar as obras que possam facilitar as vidas das pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida.

2) Como o Comdef participa do projeto MobCidades? De que forma ele atua?

O Comdef atua levando as preocupações e as questões que dizem respeito ao nosso segmento, que são as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida.

Nossa preocupação maior são os obstáculos que encontramos para que as pessoas se movimentem pela cidade. Que as pessoas possam utilizar o transporte coletivo, que elas possam circular pelas calçadas, que possam circular utilizando as praças, jardins e equipamentos públicos. Na verdade, há uma série de barreiras que impedem que as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida circulem livremente pela cidade.

3) Piracicaba é uma cidade inclusiva? Como o senhor avalia a participação da pessoa com deficiência nas diferentes esferas sociais?

A acessibilidade em Piracicaba é muito ruim. Apesar de ter sido investido muito em obras de rebaixamento de guias - nas equinas temos muitas, por exemplo - elas não são bem-feitas. Sempre terminam com um degrau de um ou dois centímetros, com objetivo de se evitar acúmulo de água. Sem falar que, mais recentemente, foi realizado o recapeamento das ruas, ressaltando ainda mais o desnível. O cadeirante não consegue atravessá-las sem a ajuda de alguém. A concepção de acessibilidade não é essa. Ela prevê que a pessoa tenha autonomia, segurança e independência para fazer a travessia de um local para o outro.

A cidade toda deveria ter guias rebaixadas adequadas, não apenas as que vemos em quatro ou cinco pontos da Avenida Renato Wagner, na entrada da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda (Semtre) ou na Rua do Porto. Estive no mais novo hospital particular de Piracicaba e não encontrei banheiros adaptados para pessoas com deficiência na área comum. Nas unidades públicas de saúde, também há dificuldades. Nem todas as escolas de Piracicaba apresentam mecanismos de acessibilidade. A própria sede da Secretária de Desenvolvimento Social não tem acessibilidade. Para entrar na unidade tem uma escadaria, não há rampa e é preciso usar o elevador do prédio vizinho. Em 2008, venceu o prazo, estipulado em decreto, para que os prédios públicos de Piracicaba realizassem adaptações que garantissem a acessibilidade da pessoa com deficiência. Na cidade toda, temos apenas um sinal sonoro para cegos ou pessoas com baixa visão que, por sinal, fica em frente à sede da Avistar, na Avenida Antônia Pizzinato Sturion. No Centro da cidade, no circuito entre o Mercadão até a Câmara, em vias de grande movimentação, todos os pontos deveriam ter sinais sonoros. Sem falar da região dos hospitais e locais de grande concentração e fluxo de pessoas, em templos religiosos, por exemplo.

Nos serviços públicos de maneira geral, temos pouquíssimas possibilidades da pessoa surda se comunicar durante o atendimento em um banco, hospitais, no comércio. Os surdos, são alfabetizados primeiramente em Língua Brasileira de Sinais (Libras), na sua maioria, e depois em português, formam uma espécie de cultura a parte. Para fazer essa transição, também teríamos que ajuda-los, também precisamos aprender Libras. Nossos parques têm muitas dificuldades. O da Rua do Porto é um dos únicos que pode ser citado com bom exemplo de acessibilidade. Mas, como fica a demanda da cidade toda? Pelo Censo de 2010, temos 75 mil pessoas com deficiência. Daria para encher dois estádios “Barão da Serra Negra”. Onde elas estão? É uma população que parece ser invisível.

4) Quanto custa a instalação desses mecanismos de acessibilidade?

A adaptação de um ônibus não altera em 1% o valor dele, quando feita durante a fabricação do ônibus, claro. Depois de pronto, o custo é muito mais alto. Em relação ao sinal sonoro, durante a implantação do semáforo, a diferença de preço é bastante pequena. A questão, portanto, é de planejamento. As tecnologias já existem e são, relativamente, simples. Nos teatros, por exemplo, a audiodescrição é comum, mas não temos em nossa cidade. Ainda temos muito a caminhar.

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